Entenda o impacto do aumento de gastos do governo no bolso do trabalhador

Economistas explicam que o equilíbrio das contas públicas mantém a geração de empregos, renda, preços adequados e serviço público de qualidade


Por Rota Araguaia em 26/06/2024 às 08:42 hs

Entenda o impacto do aumento de gastos do governo no bolso do trabalhador
Reprodução

Por R7

 

O aumento das despesas do governo federal acima do esperado é uma das preocupações do mercado, que tem pressionado a economia. Na última semana, o risco de o governo gastar mais do que arrecade foi um dos motivos para a alta recorde do dólar, queda de ações e manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano.

Após resistência para a aprovação de novas medidas arrecadatórias, o governo afirmou que acelerará a agenda de revisão de gastos públicos. Mas o que isso impacta no bolso do trabalhador?

“Essa questão dos gastos públicos, de conseguir equilibrar o que se arrecada com o que se gasta, é um problema que o Brasil já enfrenta há alguns anos. Desde a crise de 2015 e 2016, a gente começou a dar muito mais atenção a isso”, afirma Bruno Imaizumi, consultor econômico da LCA.

Para ele, são vários fatores que acabam afetando o dia a dia dos brasileiros. “A primeira questão é em relação à confiança na economia. A percepção de que as contas públicas estão descontroladas por esse lado dos gastos provoca uma diminuição da confiança de investidores, de agência de classificação de risco. Consequentemente, acaba afetando a credibilidade do país. Isso afasta alguns investimentos que poderiam vir para cá”, acrescenta o economista.

Ele destaca a desvalorização do real, que já depreciou mais de 10% no ano. “Nossa economia é muito dolarizada ainda. Isso pode afetar a inflação, o nível de preços”, avalia.

Quanto mais o governo gasta do que arrecada, ele precisa financiar esse déficit. Isso é feito geralmente por meio de emissão de títulos de dívida pública. Quando essa dívida cresce, a gente pode observar aumento das taxas de juros, dificultando tomada de crédito. Então não está relacionado só com o governo, pode afetar o nosso dia a dia sim.

(BRUNO IMAIZUMI, ECONOMISTA)

O professor de economia Hugo Garbe, da Universidade Mackenzie, afirma que equilibrar os gastos públicos é fundamental para a saúde financeira de um país e também para o bem-estar da população. “Quando o governo gasta mais do que arrecada, ele cria o que a gente chama de déficit, que precisa de forma geral ser financiado. É como se ele entrasse no cheque especial. E, geralmente, isso é feito por meio de empréstimo”, explica Garbe.

Algumas das razões importantes para o governo manter o equilíbrio dos gastos, segundo Hugo Garbe:

Inflação

“Primeiro é o fato da estabilidade econômica, porque os gastos públicos descontrolados podem levar à inflação, governo está jogando mais dinheiro no mercado e isso pode levar a um aumento geral dos preços. Quando os preços sobem, o poder de compra das pessoas diminui, e torna a vida do cidadão mais difícil.”

Confiança dos investidores

“Governo que mantém suas contas em ordem transmite confiança para o investidor, principalmente para o investidor estrangeiro, para o empresário que vai abrir uma fábrica, que vai abrir uma loja, que vai gerar vagas de emprego. É importantíssimo que os investidores tenham segurança e confiança no governo e estabilidade para decidir onde colocar o seu dinheiro. Mais investimentos significam mais empregos, mais crescimento econômico para o país.”

Serviço público de qualidade

“Os recursos bem administrados garantem que o governo possa continuar oferecendo serviço público de qualidade e essenciais como saúde, educação e segurança. Gastos quando são descontrolados podem levar à necessidade de cortes em algumas áreas essenciais e acabar prejudicando de forma geral a população.”

O equilíbrio dos gastos públicos são prática fundamental para conseguir uma economia saudável e a confiança dos investidores, mantendo geração de empregos e renda para a população e preços adequados sem inflação e um serviço público de qualidade

(HUGO GARBE, PROFESSOR DE ECONOMIA)

Raquel Borges de Sá, chefe de economia da Rico, afirma que, quando se de equilíbrio fiscal, a primeira coisa a lembrar é que não tem mágica. O dinheiro do governo é o dinheiro do contribuinte. Mas quando ele arrecada menos do que gasta, ele se endivida, a chama dívida pública. Assim como algumas famílias, às vezes, o governo também gasta mais do que recebe e tem de recorrer a empréstimos ou financiamentos.

“E essa dívida pública vai ser mais cara ou mais barata a depender de uma série de fatores. Mas esses fatores se encontram na credibilidade do governo. Mais fácil de entender é trazendo para um orçamento familiar ou pessoa. Então se você for emprestar dinheiro para uma pessoa e essa pessoa não paga as contas, você vai cobrar mais juros porque seu risco é maior. É o mesmo que acontece com governos. Quanto maior a credibilidade do governo, mais barato será para ele se financiar no mercado”, afirma a economista.

E quem financia o governo são todas as pessoas, investidores institucionais, investidores estrangeiros, todo mundo que compra dívida pública. Quem compra um título do Tesouro Direto está financiando o governo. “E isso tem a ver com o bolso do brasileiro. O nível de endividamento, o governo pegando emprestado, isso impacta a economia de várias formas, como os juros e na inflação”, avalia Raquel.

Quando você tem uma expectativa que o governo vai gastar muito mais do que arrecada, isso significa que ele vai ter que se endividar mais no futuro. Outra opção é a emissão de moedas, o que causa mais inflação.

Como a nossa dívida é em reais, o investidor tem medo de que, quando for pago esse dinheiro, vai valer muito menos porque o governo vai ter emitido dinheiro e essa moeda vai perder valor. Quanto menor a credibilidade, mais cara é a dívida. E quanto mais cara é a dívida, mais ela sobe.

(RAQUEL BORGES DE SÁ)

Para ela, o principal canal de transmissão dos gastos públicos e do fiscal para o bolso da população é a inflação. Os outros são as expectativas de inflação no futuro, o câmbio e aumento da demanda agregada. “A inflação bate direto no bolso da população, principalmente, dos mais pobres. Por isso, o gasto excessivo pode ser um tiro no pé de uma política social, que está olhando para proteger a camada mais pobre”, avalia a chefe de economia da Rico.




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